Áudios de militares são ‘pá de cal’ sobre Bolsonaro, diz analista
A peça acusatória, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), contém a declaração do militar, preso desde novembro de 2024.
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O áudio divulgado na véspera pela Polícia Federal (PF), em que o general da reserva Mario Fernandes afirma ser a minuta do golpe “real” e despachada com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), quando no pleno exercício do cargo, segundo afirmou um graduado assessor do Supremo Tribunal Federal (STF) à reportagem do Correio do Brasil, cai como “uma pá de cal” sobre o argumento de que o ex-mandatário neofascista não sabia que estava em andamento uma tentativa violenta de ruptura do regime democrático. O material, encontrado em celulares e computadores apreendidos durante a investigação, resultou na denúncia de 34 suspeitos de integrar a intentona golpista derrotada no 8 de Janeiro.
A peça acusatória, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), contém a declaração do militar, preso desde novembro de 2024. O áudio com a mensagem foi encaminhado ao então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, em 7 de dezembro de 2022.
— Kid Preto, falei com o Renato. O decreto é real, foi despachado ontem com o presidente. É, (risos), movimento, eu tô de olho aqui. Se for o caso, eu aciono o senhor para voltar. Eu nem vou. Eu aciono o senhor para voltar. Força! — disse Fernandes.
Decreto
O relatório da PF contém, ainda, a mensagem de Fernandes, enviada “exatamente no dia em que Jair Bolsonaro se reuniu com os comandantes do Exército e da Marinha, e com o ministro da Defesa, para apresentar a minuta de decreto”. General da reserva do Exército, Fernandes foi chefe substituto da Secretaria-Geral da Presidência.
O militar foi preso preventivamente em novembro passado, suspeito de arquitetar a morte do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Até março do ano passado, Fernandes estava lotado como assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ).
Para a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), os áudios obtidos pela PF evidenciam que o golpe de Estado fracassado ocorreu pela articulação contra o presidente Lula, com o objetivo de implantar uma ditadura.
— Não tem nenhum inocente nessa trama. Todos têm de ser responsabilizados, inclusive quem permitiu e apoiou os acampamentos contra a democracia nas áreas dos quartéis. É sem anistia! — afirmou Hoffmann.
Comando
Os áudios trazem à tona diálogos entre militares, policiais militares do Distrito Federal e aliados de Bolsonaro. Um dos trechos mais contundentes foi enviado pelo tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, então lotado no Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter). Na mensagem, ele incita os acampados.
— Eu acho que o pessoal poderia fazer essa descida. E ir atravancando mesmo. Porque a massa humana chegando lá, não tem PM que segure. Vai atropelar a grade e vai invadir. Depois não tira mais — afirmou.
Em outra participação efetiva da Presidência da República no golpe impedido pela união das forças legalistas, a carta elaborada por comandantes das Forças Armadas em novembro de 2022, com a anuência de Bolsonaro, fez com que manifestantes acampados no Quartel General (QG) do Exército se sentissem seguros para avançar em direção à Praça dos Três Poderes, segundo afirmou o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, em áudio obtido pela Polícia Federal (PF).
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