O próximo papa pode ser brasileiro?O próximo papa pode ser brasileiro?
Brasil tem sete cardeais que participarão do conclave e poderiam ser eleitos papa, mas sucessão é marcada por incertezas.

Desse seleto grupo, 80% foram nomeados por Francisco durante seus anos de pontificado, nos quais ele frequentemente escolheu homens que compartilhavam suas prioridades pastorais. E há sete brasileiros, sendo que dois aparecem entre os cotados: o cardeal Leonardo Ulrich Steiner e o cardeal Sérgio da Rocha.
O Brasil tem ainda um oitavo cardeal, o arcebispo emérito de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, mas, aos 88 anos, ele não participa mais do conclave, pois já ultrapassou a idade limite de 80 anos para eleitores.
Embora o Brasil tenha figuras de grande prestígio dentro do Colégio dos Cardeais, a eleição de um papa é marcada por incertezas e os maiores favoritos no momento não são brasileiros. Veja a seguir quem são os cardeais brasileiros e as chances de o próximo papa ser brasileiro:
Cardeal Leonardo Ulrich Steiner
Arcebispo metropolitano de Manaus, Leonardo Ulrich Steiner foi nomeado cardeal da Igreja Católica pelo papa Francisco em 2022, tornando-se o primeiro cardeal da região amazônica.
O cardeal nasceu em 6 de novembro de 1950, em Forquilhinha, Santa Catarina, e ocupou diversos cargos de relevância na área de formação e ensino dentro da Igreja ao longo de sua trajetória.
Em 1976, ingressou na Ordem dos Frades Menores, aos 25 anos, e foi ordenado sacerdote dois anos depois. Em 2005, Steiner foi nomeado bispo por João Paulo 2º.
Com isso, ele atuou como bispo auxiliar de Brasília entre 2011 e 2019, até ser designado arcebispo de Manaus por Francisco em novembro daquele ano — cargo que assumiu oficialmente em 31 de janeiro de 2020.
Conhecido por sua postura progressistas em questões sociais e ambientais, Steiner também estudou filosofia e teologia, obtendo bacharelado em filosofia e pedagogia pela Faculdade Salesiana de Lorraine, além de licenciatura e doutorado em filosofia pela Pontifícia Universidade Antonianum, em Roma.
Cardeal Jaime Spengler
Aos 64 anos, o Arcebispo de Porto Alegre foi o último brasileiro a se tornar cardeal. Em dezembro do ano passado, ele foi um dos 21 nomeados pelo papa Francisco que receberam o título.
Nascido em 6 de setembro de 1960, em Gaspar, Santa Catarina, e de ascendência alemã, Spengler ingressou na Ordem dos Frades Menores, fazendo seus primeiros votos em 1983.
Em novembro de 2010, foi nomeado bispo titular de Pátara e bispo auxiliar de Porto Alegre pelo papa Bento 16, sendo consagrado em fevereiro do ano seguinte. Três anos depois, em setembro de 2013, o papa Francisco o nomeou arcebispo metropolitano de Porto Alegre.
Spengler também assumiu cargos importantes na hierarquia da Igreja. Foi eleito presidente da CNBB em abril de 2023 e, logo depois, tornou-se presidente do CELAM para um mandato de quatro anos, até 2027.
Cardeal João Braz de Aviz
Aos 77 anos, João Braz de Aviz é o cardeal brasileiro mais velho apto a participar da eleição para o novo papa. Ele também participou do conclave de 2013, quando Francisco foi eleito.
Nascido em Mafra, Santa Catarina, ele foi nomeado cardial em 2012 pelo papa Bento 16, consolidando sua posição como figura de destaque na hierarquia da Igreja.
Durante sua trajetória, Aviz foi nomeado bispo de Ponta Grossa em 1998, cargo que ocupou por quatro anos. Em 2002, assumiu a liderança da Arquidiocese de Maringá, onde permaneceu até 2004, quando foi transferido para a Arquidiocese de Brasília, assumindo como arcebispo metropolitano.
É prefeito emérito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, organismo responsável por supervisionar todas as ordens e congregações religiosas no mundo.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo, o cardeal Odilo Pedro Scherer foi um dos participantes do conclave que elegeu o papa Francisco em 2013. Na época, Scherer chegou a ser mencionado pela imprensa internacional como um possível candidato para suceder Bento 16.
Em sua trajetória, ocupou cargos de destaque. Foi consagrado bispo auxiliar de São Paulo em fevereiro de 2002 e foi eleito secretário-geral da CNBB em maio de 2003. Em dezembro de 2006, o papa o nomeou secretário adjunto da Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano.
Em outubro de 2024, ao completar 75 anos, Scherer apresentou ao Vaticano seu pedido de renúncia ao cargo de arcebispo, conforme prevê o protocolo canônico da Igreja. O papa Francisco acolheu o pedido, mas solicitou que ele permaneça na função até 2026.
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro desde 2009, Orani João Tempesta foi nomeado cardeal pelo papa Francisco em fevereiro 2014. Desde então, passou a integrar diversos organismos e conselhos importantes da Cúria Romana.
Nascido em 23 de junho de 1950, em São José do Rio Pardo, ele ingressou no mosteiro cisterciense de São Bernardo em 1967, após concluir o ensino médio. Estudou filosofia no mosteiro de São Bento, em São Paulo, e teologia no Instituto Teológico Salesiano Pio IX.
Antes de ser nomeado arcebispo do Rio de Janeiro pelo papa Bento 16 em 27 de fevereiro de 2009, serviu como arcebispo de Belém do Pará de 2004 a 2009.
Também atuou como vice-presidente do Regional Norte 2 da CNBB, presidente da Comissão Nacional para a Cultura, Educação e Comunicação Social e membro efetivo do conselho permanente, do conselho pastoral e do conselho econômico da CNBB.
Cardeal Paulo Cezar Costa
Natural de Valença, no Rio de Janeiro, Paulo Cezar Costa foi nomeado cardial pelo papa Francisco em agosto de 2022, aos 55 anos, tornando-se um dos membros mais jovens do Colégio Cardinalício. Na época, era o terceiro mais jovem entre os cardeais eleitores, evidenciando sua rápida ascensão dentro da Igreja.
Antes disso, em outubro de 2020, foi nomeado arcebispo metropolitano de Brasília, cargo que assumiu em dezembro daquele ano. A nomeação o colocou no centro do cenário político e religioso do Brasil, já que Brasília abriga a sede da CNBB.
Um dos marcos de sua trajetória foi atuar como diretor administrativo da Jornada Mundial da Juventude de 2013, ocasião em que conheceu o papa Francisco durante a primeira viagem internacional do pontífice.
Cardeal Sérgio da Rocha
Nascido em 21 de outubro de 1959, em Dobrada, no interior de São Paulo, Sérgio da Rocha surpreendeu alguns católicos brasileiros ao ascender rapidamente na hierarquia da Igreja, tornando-se cardeal em novembro de 2016.
Antes disso, ele foi nomeado sacerdote em 14 de dezembro de 1984, aos 25 anos de idade, mas sua ascensão começou com sua nomeação como bispo auxiliar de Fortaleza em 2001. Posteriormente, foi nomeado arcebispo coadjutor de Teresina em 2007, assumindo como arcebispo titular em 2008.
Ao longo de sua carreira, ocupou posições de destaque na Igreja no Brasil e na América Latina. Foi presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a partir de 2015 e atuou no Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), onde presidiu o Departamento de Vocações e Ministérios.
Em 2018, o papa Francisco o nomeou relator-geral do Sínodo dos Bispos sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional. Ser nomeado relator-geral de um sínodo é tradicionalmente visto como um "indicativo de apoio papal — e possivelmente de uma escolha pessoal do papa para sua sucessão”, segundo um comunicado do Colégio de Cardeais.
Em 2023, o papa reafirmou sua confiança no cardeal ao nomeá-lo membro do Conselho de Cardeais, o seleto grupo que assessora o papa na governança e na reforma da Igreja.
Quais são as reais chances de um papa do Brasil?
Prever o desfecho de um conclave é uma tarefa quase impossível. As preferências dos cardeais costumam mudar ao longo das rodadas de votação, tornando o processo altamente imprevisível. Em 2013, por exemplo, poucos apostavam na eleição de Jorge Mario Bergoglio — que se tornaria o papa Francisco.
Um ditado recorrente nos bastidores do Vaticano resume bem esse cenário: "quem entra no conclave como papa, sai como cardeal.”
Mesmo assim, são consideradas remotas as chances de o novo papa vir do Brasil. Um dos fatores que contribuem para essa avaliação é a complexidade esperada para o próximo conclave.
De acordo com o cardeal Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, a eleição do sucessor de Francisco "exigirá muito empenho", principalmente devido à diversidade do atual colégio cardinalício.
Segundo ele, o papa Francisco promoveu uma ampla internacionalização no colégio, incorporando vozes de realidades sociais e culturais muito distintas. Esse mosaico trouxe "uma riqueza extraordinária”, mas também tornou os consensos mais difíceis.
"O colégio cardinalício traz a marca da internacionalidade”, explicou Spengler à agência de notícias espanhola Efe.
"O papa Francisco, ao longo de seu ministério, configurou o colégio de forma muito vigorosa, trazendo para seu seio expressões das mais diversas realidades culturais, sociais, conferindo-lhe uma riqueza extraordinária. Escolher alguém nesse contexto será um trabalho que exigirá muito empenho", completa.
Autor: Luiza Palermo
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